terça-feira, 12 de junho de 2012

UNÇÃO COM ÓLEO

Ao amado.

Escrevo este breve estudo com o propósito de analisarmos a prática da unção com óleo com o fim de realização de curas, outro sim, esclareço que tal assunto traz divergências entre grandes teólogos, que com certeza são verdadeiros homens de Deus.

Entretanto, não podemos nos apoiar neste argumento e deixarmos de examinar as Escrituras com profundidade e responsabilidade, buscando entender o que os escritores sagrados pretendiam ensinar à igreja com respeito ao uso do óleo. 

Creio que Deus pode agir transmitindo curas ao homem, pois Ele criou e governa todas as coisas. "E tudo quanto pedirdes em oração, crendo, recebereis" (Mt 21.22). (A ênfase aqui é na oração e na fé). "E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho." (Jo 14.13) (A ênfase aqui é no Filho, para a glória do Pai).

Creio que a Bíblia Sagrada é a revelação de Deus para os regenerados (revelação especial) e que a natureza revela a obra das mãos de Deus (revelação geral), que a Bíblia é a nossa única regra de fé e prática, e suficiente para os propósitos da revelação. "Lâmpada para os meus pés é a tua Palavra e, luz para os meus caminhos" (Sl 119.105).

Faremos algumas considerações que nos levarão a reflexões importantes em relação à unção com óleo para fins de curas, quer no âmbito físico ou mental (depressão, ansiedades, pânicos, etc).

Iremos fazer um estudo, mostrando o significado de algumas palavras, portanto recomendo ao amado que fique de posse de sua Bíblia.

Tomaremos como base o texto que se encontra em Tiago 5.14, auxiliado por outros textos, como, Marcos 6.13 e Lucas 10.34 onde encontramos a parábola  do bom samaritano aplicando óleo nos ferimentos de homem que caíra nas mãos de salteadores (princípio exegético dos textos paralelos).

"Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor". (Tg 5.14)

"Expeliam muitos demônios e curavam numerosos enfermos, ungindo-os com óleo".(Mc 6.13)

"E chegando-se, pensou-lhe os ferimentos, aplicando-lhe óleo e vinho" (Lc10.34).

O óleo de oliva era tido como remédio. De fato, nos tempos bíblicos o uso de óleo como medicamento era universal. Observe como exemplo Mc 6.13 e Lc 10. 34. Isaías lamentava a condição do povo de Deus que ele descreveu como uma pessoa machucada cujas feridas não foram amolecidas (tratadas com óleo). Is 1.6.

"Desde a planta dos pés até a cabeça não há nele coisa sã, senão fendas, contusões e chagas inflamadas, umas e outras não espremidas, nem amolecidas com óleo". Is 1.6

Observando atentamente os textos, percebemos que Tiago (Tg 5.14) não tinha em mente mágica nenhuma, quando mencionou o uso de óleo. Como questão de fato, Tiago não escreveu sobre nenhum tipo de unção cerimonial.

A palavra grega "ungir" (aleipho) empregada por Tiago, não indica unção cerimonial (explicarei mais adiante), pois a palavra comumente usada para unção cerimonial era chirio (cognata de christós) "ungido" - Cristo o ungido. Em contraste com a palavra "chrio" (ungir) o vocábulo utilizado por Tiago (aleipho) geralmente, significava friccionar ou simplesmente "aplicar" loções e perfumes que em geral tinham uma base de óleo.

O termo se relaciona com lipos (gordura) e era empregada até significando argamassa para paredes. O vocábulo cognato exaleipho, intensifica o conceito de esfregar ou aplicar óleo, e dá a ideia de untar, raspar.

O termo "aleipho" ocorria muitas vezes nos tratados de medicina. Assim é que vem a tonaque o que Tiago pretendia com o uso do óleo, era o emprego dos melhores recursos médicos daquele tempo.

Tiago simplesmente disse que se aplicasse óleo (frequentemente usado como base de misturas de várias ervas medicinais) no corpo e que se fizesse oração. O que Tiago defendia era o emprego da medicina aceita e consagrada.

Nessa passagem (Tg 5.14) ele apregoou que as doenças fossem tratadas com recursos médicos acompanhados de oração. Ambos os elementos devem ser usados juntos; nenhum deles deve excluir o outro. Aí está a razão por que Tiago disse que a oração da fé cura o doente. (Tg 1.15)

Muitos afirmam que o óleo é apenas um símbolo, que não exerce nenhum poder direto no processo da cura, outros fazem consagração do elemento óleo com o propósito de torná-lo diferenciado (sagrado).

E eu pergunto: Não estamos vivendo na era da graça? Então porque carecemos de simbolismo, como se ainda andamos debaixo da lei? Se o Espírito Santo intercede por nós com gemidos inexprimíveis (Rm 8.26). Os símbolos sacramentais que temos na era da graça são, água, no batismo e os da Santa Ceia.

Ainda tomando como exemplo o nome Cristo, se Jesus é o nome pessoal, Cristo é o nome oficial do Messias. É o equivalente a mashiach do Antigo Testamento (de maschach, ungir) e assim significa "o ungido".

Normalmente, os reis e sacerdotes eram ungidos durante a antiga dispensação, Ex 29.7, Lv 4.4, Jz 9.8, Sm 9.16. O rei era chamado o ungido de Jeová,  1Sm 24.10. Somente um caso de unção de profeta está registrado, 1Rs 18.16, mas provavelmente há referências a isto em Sl 105.15 e Is 61.1.

O óleo usado na unção desses oficiais simbolizava o Espírito de Deus, Is 61.1,Zc  4. 1-6 e a unção representava a transferência do Espírito para a pessoa consagrada, 1Sm 10.1. A unção era sinal visível de designação para um ofício, estabelecimento de uma relação sagrada e o resultante do caráter sacrossanto da pessoa ungida. "Sm 24.6, 2Sm 1.14 e também comunicação do Espírito ao ungido, 1Sm 16.13.

A prática de se ungir irmãos com óleo, na busca de curas para enfermidades é questionável, não estamos mais vivendo na velha aliança, estamos na nova aliança, devemos prestar um culto racional a Deus e a razão  leva-nos ao zelo e o zelo conduzi-nos ao estudo e o estudo nos leva para o conhecimento da verdade, que deve ser pregada, ensinada e praticada.

"E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará". Jo 8.32 (JESUS CRISTO, a verdade verdadeira). A fim de não sermos levados por qualquer vento de doutrina, permanecendo fieis às Doutrinas Bíblicas tão bem expostas ao pregador e a nós outros, quando se aplicam corretamente os princípios da hermenêutica e da exegese, acompanhadas da unção do Espírito Santo e da piedade.

Na história, o homem sempre buscou sinais visíveis para firmar uma relação com o Deus que é invisível, demonstrando a fragilidade de sua fé.

E como um eterno aprendiz, coloco-me pronto para qualquer ensinamento, desde que estejam realmente fundamentados na Sagrada Escritura e obedeçamos  os princípios da autoridade interna, do contexto, dos textos paralelos, da autoridade do texto, da interpretação do texto, etc.

É bom lembrar que este escrito trata-se de um estudo e como todo estudo está sujeito a avaliações, criticas e reformas, desde que verdadeiras. (SOLA SCRIPTURA) Pb. Gilson dos Santos.

FONTES: Teologia Sistemática de Louis Berkhof, O Conselheiro Capaz de Jay E. Adams, O Novo Testamento Interlinear Analítico Grego-Português de Paulo Sergio e Odayr Ollivetti.

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